Os meses seguintes
- Um Idiota
- 26 de jan. de 2021
- 5 min de leitura
Depois daquele beijo a minha vida mudou por inteira. É obvio que eu precisava manter a minha pose de macho alpha idiota, alias, muita coisa era incerta naquela nova relação, e eu já tinha planejado minha vida toda até os meus 70 anos. E cá entre nós, é meio complicado se desfazer de manias, jeitos e planos adquiridos em 29 anos de vida suja e mal elaborada, mal eu sabia que o meu dia havia chego. Era a minha hora, a redenção me abordou com um soco no estomago. E eu agradeço até os dias de hoje por ter sido através dessa pequena garota.
Os dias seguintes foram se arrastando, e eu me mantive firme. Um misto de merdas passaram pela minha mente, e eu travei a primeira guerra contra mim mesmo, contra os meus planos de viver só, não construir família e ter um sucesso digno de um cara totalmente racional, sem se envolver com o lado emocional. Mas definitivamente ela me dobrou, foram gestos sutis de uma assassina profissional que sabia exatamente o que precisava ser feito, ela agiu sorrateiramente, jogou sujo nos primeiros dias e se mostrou ser a mulher que qualquer homem pediria a Deus. Descomplicada, parceira, compreensiva, carinhosa nos momentos certos, divertida e totalmente livre.
Eu mantive minha rotina idiota, visitando os amigos, dando umas voltas de carro, mas sempre grudado ao celular respondendo mensagens intrigantes de uma espertinha que me metralhava com oito milhões de indiretas, e no fim do dia sempre conseguia tirar de mim o que queria. As conversas se tornaram cada vez mais constantes, iniciávamos os dias com alguma brincadeira, ou uma troca de memes, e terminávamos as noites comigo a obrigando a me dar bom dia no dia seguinte, eu estava preso a ela desde essa época e não sabia.
Eu precisava dela todos os dias, mas eu não podia falar. Eu nunca fiz isso, eu nunca fui assim, pq seria agora? E então a segunda guerra mental começou dentro de mim, eu precisava mudar isso, eu precisava melhorar se a queria de verdade, e só Deus sabe o quanto eu queria. Eu não lembro exatamente em qual momento essa chave virou dentro de mim, mas eu sabia que precisava mudar por ela, e mudei. Deixei os amigos de lado, as voltas de carro também, e comecei a focar no que eu realmente queria, a garota dos cabelos lisos e compridos.
Uma pandemia mundial se iniciava em março de 2020, acabando com todo e qualquer planejamento pro meu relacionamento bebê, e assim nunca mais a vi na vida... Óbvio que não! Passávamos o dia inteiro planejando como seria nossa noite, os minutos que antecediam o nosso encontro eram contados a dedo por mim (parecia que não, mas é verdade). Ali começava uma época marcante em nossas vidas, as saídas escondidas de madrugada. Saídas essas onde na maioria das vezes tínhamos que aguardar o padrasto dela dormir, pra só depois eu encostar o carro na frente da casa, e ela sair toda linda pelo portão preto que até hoje tem um interfone estragado que eu nunca vi alguém usar. Nos primeiros passeios ficávamos dando voltas pela cidade vazia e conversando por horas, nos conhecendo, nos aproximando cada vez mais. Lembro exatamente do dia que parei o carro perto do quartel da cidade, numa ruazinha escura, e ali eu tive uma jogada de mestre. Eu pedi para que ela me contasse algo que ela nunca contou pra ngm, ela relutou no começo mas acabou confiando em mim e me passando informações extremamente sigilosas que não cabe citar nesse texto, ou melhor, em texto nenhum. Naquele momento eu tive certeza de que era ela, não tinha como não ser, ela confiou em mim e eu tive o imenso prazer de ver aquele rostinho rosadinho estremecer de vergonha enquanto me contava um acontecimento que cá entre nós, ngm gostaria de expor, ainda mais pra um cara idiota como eu que ela havia conhecido a poucos dias num bar.
Tudo aconteceu muito rápido e de uma forma muito intensa, e as vezes eu perco a linha temporal dos fatos dessa história, que eu não canso de repetir em minha mente. Mas enfim, naquela semana eu iria conhecer os amigos dela, e pra ser sincero eu estava bastante nervoso com a situação, eu nunca fui ruim em lidar com pessoas, mas o nervosismo em fazer tudo dar certo acabou me matando na noite em que tive que encostar o carro em frente a um trailer que vende lanches, e descer com uma cara de cu, totalmente perdido pra conhecer duas pessoas normais, cada um com uma história de vida diferente e interessante que mais tarde se tornariam importantes de alguma forma. Mas eu tiraria de letra aquela situação se não fosse por ela, ela me transmitia calma, mas meu cérebro insistia em me deixar nervoso em qualquer situação que envolvesse essa garota, e aquilo estava me deixando puto.
Eu desci do carro com o estomago embrulhado em nervosismo, fato esse que eu não havia assumido pra ngm até hoje. Nada deu certo naquela noite, e eu passei algumas horas acreditando que aquelas duas pessoas não haviam gostado de mim, afinal se eu falei 8 palavras naquela noite, foi muito... Nem eu mesmo gostaria de mim naquela situação. Depois de alguns minutos de constrangimento saímos de lá e ficamos conversando por horas dando voltas na rua até o horário de eu deixa-la em casa, e vir voando pra casa socar as portas por ter estragado tudo.
Na manhã seguinte acordei com um simples "bom dia, amor!", frase essa que eu havia ensaiado muito com ela na noite anterior. E pra ser sincero eu não esperei que ela realmente fosse mandar, mas ela mandou. E a partir dali tudo passou a fazer sentido, as coisas começaram a se encaixar, eu havia estragado tudo com o pessoal dela, mas ela não ligava e eu ainda tinha uma chance. Aquele "bom dia" foi o respiro que eu precisava pra voltar ao normal e deixar minhas paranoias de lado. Ela me queria, porra! Eu levantei da cama assustado em meio a um monte de caixas da mudança que estava fazendo em casa, e fui pro trabalho saltitando igual um putinha no cio.

Hoje fazem 10 meses e 18 dias desde o primeiro beijo no amor da minha vida, e temos muita história pra contar. Mas eu vou deixar pra um outro dia, preciso urgentemente tomar um banho e fechar os olhos, não dormi nada de ontem pra hoje. Mas pra finalizar já adianto que foi ela quem me pediu em namoro poucos dias depois de me chamar de "amor" pela primeira vez.

Sim, eu sou um idiota. E é óbvio que não foi assim que aconteceu, foi pior.
Continua...
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